terça-feira, 3 de novembro de 2009

NO CÉU, COM VEREQUETE E WALDEMAR



Os anjos devem ter sentido a falta de alguém com a dignidade, o gênio, a simplicidade e a musicalidade de Augusto Gomes Rodrigues lá por cima, no firmamento. “Chama o Verequete!”, alguém soprou da eternidade. Coincidiu que o mestre estava em sua sesta à espera de um verso que teimava em não aportar na sua morada, pegou carona na brisa e voou. O verso que ele ansiava era um como aqueles que fizeram-no – ainda em vida – um dos poetas populares mais criativos do Brasil:
Mandei fazer meu terreno
Bem na beirinha do mar
Mandei fazer meu terreno
Só pra mim brincar


Para alguns ele deixa saudades – mas que é esse sentimento quando a música o transfigura em beleza?
Não cante mulher alheia
vai mexer com marimbondo
pois quem canta leva peia
oi, quem mexe sai com o nariz redondo.


Mestre que aprendeu a transcrever da pauta da alma letras e sons que nunca ouvíramos e provavelmente jamais ouviremos de novo, sem nunca ter escrito algo ou lido uma página sequer.
Maçariquinho da beira da praia
como é que mulher roda a saia
é assim, é assim, é assim, o lê lê
é assim que mulher roda a saia,


Provavelmente, “lá em riba”, encontrará com outro genuíno criador musical, paraense como ele, erudito, mas ambos com igual genialidade e verve – Waldemar Henrique. Não é de se descartar que façam saraus por esses infinitos, ajudados pelo preto velho Bruno de Menezes, ao lado do caboclo marajoara Dalcídio Jurandir. Vamos sentir tua falta, Mestre Verequete; mas que é a saudade senão a ausência preenchida no peito com a delicadeza das memórias tecidas em forma de canções?
O carimbó não morreu,
está de volta outra vez,
o carimbó nunca morre,
quem canta o carimbó sou eu.


Alfredo Garcia-Bragança – Escritor

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