sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

OS CAMINHOS DA LEITURA (3)


“Leitura e cidadania têm tudo a ver. É um binômio correto, objetivo, que anuncia a estreita relação entre uma ação de governo e sua conseqüência na vida dos nacionais. Ao tempo da colônia, o governante proibia a leitura e a difusão do conhecimento. O propósito era não formar cidadãos, privilégio admitido apenas aos membros da elite. O País democrático, que abre espaço para que os contrários convivam em paz dentro do mesmo espaço político, precisa oferecer mais e mais oportunidades a todos para aprender, conhecer, ler e, por intermédio desse caminho, se transformar em cidadãos de fato e de direito”. A afirmativa de Jorge Werthein, doutor em Educação e mestre em Comunicações pela Universidade de Stanford, em seu artigo “Leitura e cidadania”, incluso em “Retratos da leitura no Brasil” (Instituto Pró-Livro, Imprensa Oficial-SP, 2008) está escudada em números e é um alerta para os governantes – nesse ano pré-eleitoral em que as propostas salvacionistas começam a aparecer: só teremos um país sonhado por Monteiro Lobato, pleno de leitores, portanto, se as esferas federal, estadual e municipal se unirem em prol da difusão da leitura.
O escritor Moacyr Scliar, autor de 80 obras em diferentes gêneros – e que esteve sábado na XIII Feira Pan-Amazônica do Livro, participando do “Encontro Literário” e autografando livros para os admiradores paraenses – observa sobre esta “confraria” de leitores o seguinte em seu texto “O valor simbólico da leitura”: “Há um aspecto que reforça o simbolismo da leitura. É o fato de que leitores, mesmo distantes no tempo e no espaço, formam uma família, uma verdadeira irmandade. Hoje a leitura é uma coisa pessoal, feita em silêncio, mas a gente esquece que nem sempre foi assim. Nos mosteiros medievais, por exemplo, um monge lia para os outros, ainda que esses outros soubessem ler. No século 19, o pai ou a mãe lia para a família reunida que, igualmente, podia ler. Mas é que o texto proporciona um vínculo emocional, inclusive com o autor – não por outra razão Baudelaire considera o leitor “mon semblable, mon frère”, meus semelhante, meu irmão. E o escritor precisa ser lido, o que explica o patético apelo da poeta Edna St. Vincent Milay: Ready me, dot not let me die, leia-me, não me deixe morrer. Há vida, no texto, a vida que o autor, sobretudo o poeta ou o ficcionista ali depositou. “
Essa vida secreta dos livros e da literatura ganha alma nas mãos dos leitores, os quais, diga-se, conforme a pesquisa “Retratos da leitura no Brasil” espelha, querem mais é ler. Não é à toa o número de 80,3 milhões de brasileiros que declararam entre diversos suportes apreciarem mais ler livros (84% dos pesquisados) do que revistas (66%), jornais (55%) ou textos na Internet (27%). Os números também corroboram o que disse acima Moacyr Scliar. À pergunta com que freqüência leem/liam para os leitores iniciantes, as respostas foram estas: professor (85%), mãe ou responsável mulher (51%), outros (41%) e pai ou responsável homem (34%), sendo que os três últimos (quanto à intensidade) ficaram com a avaliação “nunca leem”, respectivamente em 49%, 59% e 66%. Como se vê, outros tempos, outros modos de leituras, flagramos uma distância maior entre pais e filhos que podia ser estreitada pelo simples ato de abrir as páginas de um livro e contar uma história.


O QUE OS LEITORES MAIS APRECIAM LER
Intensidade da leitura por tipo de suporte
LIVROS – 84% (80,3 milhões)
REVISTAS – 66% (62,7 milhões)
JORNAIS – 55% (52,2 milhões)
TEXTOS NA INTERNET – 27% (25,8 milhões)
NENHUM/NÃO INFORMOU – 3%
Fonte: Pesquisa Retratos da leitura no Brasil.

FREQUÊNCIA COM LEEM/LIAM PARA OS LEITORES INICIANTES
PROFESSOR – 85% (Sempre/Algumas vezes); 15% (Nunca)
MÃE (OU RESPONSÁVEL MULHER) – 51% (Sempre/Algumas vezes); 49% (Nunca)
OUTROS – 41% ((Sempre/Algumas vezes); 59% (Nunca)
PAI (OU RESPONSÁVEL HOMEM) – 34% (Sempre/Algumas vezes); 66% (Nunca)
Fonte: Pesquisa Retratos da leitura no Brasil.

LEITURA COM PRAZER OU OBRIGAÇÃO
SENTEM PRAZER AO LER UM LIVRO – 75% (71,7 milhões)
LEEM POR OBRIGAÇÃO – 22% (21,4 milhões)
NÃO OPINARAM – 3%
Fonte: Pesquisa Retratos da leitura no Brasil.

OS CAMINHOS DA LEITURA (2)


Parafraseando um poema de Max Martins (1926-2009), o lugar para ter onde ler – e sem nenhum custo – para o leitor brasileiro é o da biblioteca escolar. “Em alguns Estados, aliás, a biblioteca escolar é mais frequentada do que a pública” escreve Maria Antonieta Antunes Cunha no artigo “Acesso à leitura no Brasil”, inserido em “Retratos da leitura no Brasil” (Instituto Pró-Livro, Imprensa Oficial-SP, 2008), publicação que analisamos nesta série sobre a leitura. E a doutora em Letras acrescenta: “É o que ocorre no Pará, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Santa Catarina”.
E quais as necessidades desse leitor quando se dirige até uma biblioteca, seja ela escolar ou pública? Os números desnudam essa indagação: a maioria (40%), constituída de 38 milhões de leitores vai em busca de livros; em segundo lugar (12%) ficam as revistas e, em terceiro lugar, os jornais. O que assusta nas respostas a esse item é o número de leitores que não costuma ir à uma biblioteca: 55,3 milhões (58%). Faltam bibliotecas nos municípios brasileiros ou projetos que estimulem os leitores a chegar até elas?
Falando em bibliotecas escolares, no Pará – Estado mencionado na pesquisa – uma iniciativa pioneira desenvolvida pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc) em 2009 proporcionou a aquisição de cerca de 30 mil livros de autores regionais, contemplando 44 editoras e até mesmo os chamados escritores independentes (34 autores) para fomentar os acervos de 524 bibliotecas das escolas públicas estaduais atendidas pelo Sistema Estadual de Bibliotecas Escolares (Siebe). Essa política de incentivo à indústria do livro regional, que respeita, também o autor paraense, está em sintonia com os dados estabelecidos na pesquisa que registra como a forma de maior importância de acesso aos livros para os leitores o empréstimo de exemplares por bibliotecas (públicas ou particulares), em três faixas etárias: 49% (4 a 10 anos), 11 a 13 (53%) e 14 a 17 (47%).
Os canais do mercado pelos quais os leitores têm acesso aos livros também são diversificados. Em primeiro plano aparecem as livrarias (35%), que atendem a 32 milhões de leitores, depois vem as bancas (19%) com atendimento de 17,3 milhões de leitores e, na terceira posição, os sebos (9%), que atendem a 8,2 milhões de leitores. A pergunta que não pode calar é “e as feiras de livros?”. Segundo a pesquisa constatou, eventos como a XIII Feira Pan-Amazônica do Livro – iniciada dia 6 e que vai até 15 de novembro – ocupam o quarto lugar com 9% e atendimento a 8,1 milhões de leitores. Embora seja uma considerável cifra, talvez pela sazonalidade desses eventos culturais, nos quais nem sempre o livro é o carro-chefe das atrações, muito menos os escritores, a percepção seja de que há uma necessidade crescente de mais oportunidades para colocar frente a frente leitores e escritores no espaço da discussão de idéias, forma salutar de consolidar a cidadania no país.


CINCO CANAIS DO MERCADO PARA ACESSO AO LIVRO*
Livrarias – 35%
Bancas – 19%
Sebos – 9%
Feira de livro – 9%
* Resposta estimulada em que os compradores podiam citar várias opções

COMPRADORES DE LIVROS NO BRASIL *
Comprou pelo menos um livro no ano)
Livros em geral – 36,3 milhões
Livros indicados pela escola – 15,2 milhões
Textos de trabalho – 3,4 milhões
* Um mesmo comprador pode ter comprado vários tipos de produtos ao ano

OS CAMINHOS DA LEITURA (1)


Pesquisa mostra preferências do leitor brasileiro e crescimento do índice de leitura no país

Nem Carlos Drummond de Andrade, nem Machado de Assis, tampouco Jorge Amado. Pode parecer surpresa para alguns, mas o escritor brasileiro mais admirado pelos leitores é o sempre lembrado Monteiro Lobato (1882-1948). Mais ainda: o Sítio do Pica-Pau Amarelo, local onde as personagens lobatianas – Emília, Pedrinho, Narizinho, Visconde de Sabugosa, Dona Benta, Rabicó, Tia Nastácia, Quindim, entre outros – vivem suas aventuras é a segunda obra mais lida pelos leitores brasileiros, só perdendo para a Bíblia. Fora Monteiro Lobato, os outros quatro autores líderes na preferência do leitor nacional são: Paulo Coelho (2º lugar), Jorge Amado (3º lugar), Machado de Assis (4º lugar) e Vinícius de Moraes (5º lugar).
Essas informações podem ser constatadas no livro “Retratos da leitura no Brasil” (Instituto Pró-Livro e Imprensa Oficial de São Paulo, 2008), organizado por Galeno Amorim, 45 anos, jornalista e autor de dez livros, a maioria deles para crianças. Amorim presidiu, em 2006, o Comitê Executivo do Centro Regional de Fomento ao Livro na América Latina e no Caribe (Cerlalc), órgão vinculado à Unesco. Em 2005, presidiu o Conselho Diretivo do Ano Ibero-americano da Leitura (Vivaleitura), instituído pelo Cerlalc/Unesco, OEI e governo brasileiro. Foi membro dos conselhos estaduais de Leitura dos estados de São Paulo (2004/2005) e Rio de Janeiro (2006) e secretário de Cultura de Ribeirão Preto – SP (2001/2004). “Não há quem duvide que a evolução que se deu na atual década – e isso pode ser confirmado pelo exame dos próprios indicadores de Retratos da Leitura no Brasil – se sustenta, em parte, em dois grandes pilares. O primeiro deles reside no fato de que no último século, de Monteiro Lobato – se quisermos centrar o objeto de nossa análise, por ora, somente no período mais recente da história do Brasil – até os dias atuais, uma legião de brasileiros, anônimos ou não, arregaçou as mangas e foi à luta para militantes em favor dessa causa”, escreve Galeno Amorim na abertura do livro. E acrescenta: “O segundo é que, em conseqüência de um novo período de mobilização, que teve seu auge em 2005, nas comemorações no Brasil do Ano Ibero-Americano da Leitura – entre nós conhecido como Vivaleitura-, foi amplamente debatida e construída uma agenda informal de políticas públicas, que, de certo modo, parece já ter surtido efeito”.
A pesquisa foi realizada em 311 cidades de todos os Estados brasileiros mais o Distrito federal, ou seja, todas as capitais e regiões metropolitanas foram pesquisadas. Para efeito do trabalho realizado “foram considerados leitores aqueles que, no momento da entrevista, declararam ter lido pelo menos um livro nos três meses anteriores. Também se chegou à categoria de não leitores identificando assim aqueles que, em igual período, “disseram não ter lido nenhum livro”. Os quatro indicadores principais gerados dão a conhecer o número de leitores no Brasil (95 milhões), de não-leitores (77 milhões), de livros comprados (1,2 livro por habitante/ano, o que dá 36,2 milhões de compradores de livros) e, finalmente, o número de livros lidos (4,7 livros por habitante/ano). Esses números, que a princípio podem animar os mais otimistas que sonham com um “país de leitores”, lembrando a frase de Monteiro Lobato, devem ser vistos com cautela, conforme escrevem Jeanete Beauchamp, mestre em Educação, e André Lázaro, doutor em Comunicação Social: “Os resultados da pesquisa merecem um estudo cuidadoso, a partir do exame dos dados, considerando um conjunto de variáveis e suas correlações, como o território, as populações escolarizadas e não-escolarizadas, as práticas escolares onde os resultados são mais positivos e o cruzamento dessas informações com os resultados da Prova Brasil e do Ideb”.



Os dez escritores brasileiros mais admirados pelos leitores *
1) Monteiro Lobato
2) Paulo Coelho
3) Jorge Amado
4) Machado de Assis
5) Vinícius de Moraes
6) Cecília Meireles
7) Carlos Drummond de Andrade
8) Érico Veríssimo
9) José de Alencar
10) Maurício de Souza
• Resposta espontânea e com uma única opção

Os dez livros mais importantes na vida dos leitores *
1) Bíblia
2) O Sítio do Pica-Pau Amarelo**
3) Chapeuzinho Vermelho
4) Harry Potter
5) Pequeno Príncipe
6) Os Três Porquinhos
7) Dom Casmurro
8) A Branca de Neve
9) Violetas na Janela
10) O Alquimista
* Resposta espontânea e com uma única opção
** Embora não conste da bibliografia brasileira, é uma referência à obra de Monteiro Lobato

ÍNDIOS CONSTROEM BIBLIOTECA DE PALHA COM 400 LIVROS


Com o objetivo de combater o analfabetismo e valorizar a leitura, a aldeia Campinas, no município de Campinápolis, em Mato Grosso, ganhou uma biblioteca feita de palha este ano. Os próprios moradores a construíram em apenas um dia e o idealizador do projeto, o índio Ciro Sahairo, mora na tribo.
"Leio para quem quer ouvir as histórias aos sábados", conta Ciro, que é professor. Nas estantes, 400 livros sobre literatura, história de outros países e publicações infantis distraem os índios interessados por conhecimento. A biblioteca não alimenta só a curiosidade desta comunidade, mas também está à disposição de mais sete aldeias vizinhas. A soma dá um público de quase 300 índios.
Sahairo é o responsável pelo projeto, batizado de “O Caminho da Leitura”, e um dos vencedores do prêmio Vivaleitura 2009, iniciativa dos Ministérios da Educação e da Cultura. A premiação ocorreu em São Paulo, há cerca de duas semanas.
Quando a idéia surgiu, em janeiro, o professor Sahairo visitava as famílias da região e lia para elas. Ao perceber que o interesse era grande, achou que seria melhor montar a biblioteca, construída em abril. Mesmo que a leitura aconteça somente aos sábados, os livros ficam à disposição da comunidade todos os dias. O projeto contou com o apoio de outros professores e caciques da região, conta Rogério Prepe, que trabalha com Sahairo em uma ONG local. Os livros que fazem parte do acervo foram doados. “Alguns foram até tirados do lixo”, disse Prepe.
Os idealizadores do projeto querem construir uma biblioteca maior e que possa estar ao alcance das 143 aldeias presentes no município de Campinápolis. Como o prêmio recebido recentemente, de R$ 30 mil, não é suficiente, os índios vão procurar apoio do governo do estado.

Serviço:
Os interessados em fazer doações podem procurar por Rogério Prepe no telefone (66) 3437-1925 ou enviar correspondência para Rua José Viola, 1.145, CEP 78630-000, Campinápolis, Mato Grosso.

FONTE: Érica Polo - G1 - 05/11/2009

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

SECULT DIVULGA RESULTADO DOS EDITAIS DE CULTURA 2009

A Secretaria de Estado de Cultura, através da Coordenação da Ação PARÁFAZCULTURA torna público o resultado da seleção dos editais de Cultura 2009. Foram publicados no Diário Oficial do Estado,, desta segunda-feira 30 de novembro, os resultados dos Editais de Artes Visuais, Literatura, Fotografia, Música, Juventude e LGBT que se somam ao resultado do Edital de Artes Cênicas, divulgado na semana passada, dia 23.
Desta forma a SECULT premia 75 projetos culturais distribuídos nas diversas regiões de integração do Estado selecionados em concurso público aberto a todos e todas, promovendo assim a afirmação do fim da “política de balcão” e a integração da Cultura com as ações promovidas diretamente pelas comunidades e grupos culturais. A SECULT Parabeniza todos os premiados que receberão recursos para execução de seus projetos, que variam de R$ 4.000,00 a R$ 25.000,00, conforme cada edital.
Os premiados precisam até a sexta-feira (dia 04 de novembro) entrar em contato urgente com a Coordenação da Ação PARÁFAZCULTURA através dos telefones (91) 4009-8746 / 4009-8712 / 81684223 ou do e-mail parafazcultura@secult.pa.gov.br ou secult.dc@gmail.com. Os proponentes que desejarem entrar com recursos podem entrar em contato com a coordenação acima também.
O resultado da Seleção dos Editais está disponível no Diário Oficial do Estado desta segunda-feira, 30 de novembro ou no link:
http://www.ioepa.com.br/site/includes/mostraMateria.asp?ID_materia=353177&ID_tipo=21

FONTE: Assessoria de Imprensa - SECULT